AVALIAÇÃO EM GRUPO - I UNIDADE
A Revolta da Vacina e a
reação aos médicos cubanos
Luís Nassif
O preconceito é filho legítimo da burrice e da
ignorância, como provaram estudos recentes. O preconceituoso não nasce assim,
aprende, à duras penas, a ser intolerante e reacionário. Fatores como educação,
nível sócio/econômico/cultural e localização geográfica influem
determinantemente na forma como o indivíduo encarará fatos novos em sua vida. sO
novo é o alvo principal do preconceito por que o indivíduo estará mais ou menos
preparado para a aceitação de fatos novos na razão direta que for educado para
isso. Quanto mais reacionária sua criação, mais preconceituoso ele será. Se for
inteligente, ao longo da vida corrigirá os erros de sua educação, caso
contrário cangalha e arreios se fazem necessários.
A reação tacanha e canhestra à chegada dos
médicos cubanos ao Brasil mostra isso claramente.
Quando se anunciou a chegada dos médicos
cubanos ao Brasil, começou a campanha de imbecilização da população. Ao
contrário do que se poderia esperar, a campanha não foi dirigida aos estratos
mais pobres e mais manipuláveis da sociedade. Seria difícil convencer os
beneficiados diretos de que a iniciativa era ruim. A campanha foi dirigida
justamente àqueles mais ligados à causa do problema, os médicos que acham que
medicina é instrumento de enriquecimento material, mais do que uma vocação de
ajudar e servir ao próximo.
A reação destes foi espantosa, mas para mim já
era esperada.
Quem já tinha chamado pobres de vagabundos e
Bolsa Família de esmola, só poderia reagir assim, são egoístas e ignorantes, e
burros, em sua maioria. Passaram para boas faculdades (públicas!) graças ao
poder econômico de suas famílias, que lhes garantiu educação formal de
qualidade, mas nenhuma formação moral ou ética lhes penetrou os cérebros
embotados e embrutecidos pela qualidade da educação que receberam em casa, a
centro do problema.
A reação criminosa (racismo é crime no
Brasil) só pode ser comparada a reação contra outros eventos envolvendo o
avanço da medicina e a quebra de paradigmas envolvendo hábitos e costumes.
A Revolta da Vacina, no início do Século XX,
por conta da vacinação forçada contra a varíola, gerou 6 dias de caos e
destruição no Rio de Janeiro,
"Tiros, gritaria, engarrafamento de
trânsito, comércio fechado, transporte público assaltado e queimado, lampiões
quebrados às pedradas, destruição de fachadas dos edifícios públicos e
privados, árvores derrubadas: o povo do Rio de Janeiro se revolta contra o
projeto de vacinação obrigatório proposto pelo sanitarista Oswaldo Cruz"
(Gazeta de Notícias, 14 de novembro de 1904).
Algo parecido com que tem sido visto na
recepção aos médicos cubanos, onde a classe médica doméstica acaba de destruir
sua precária e depauperada reputação com os eventos de reacionarismo e
preconceito, resultado de imbecilização e egoísmo patrocinado pela mídia e pela
oposição.
Como ocorreu em 1904.
"Para erradicar a varíola, o sanitarista
Oswaldo Cruz convenceu o Congresso a aprovar a Lei da Vacina Obrigatória (31 de
Outubro de 1904), que permitia que brigadas sanitárias, acompanhadas por
policiais, entrassem nas casas para aplicar a vacina à força.
A população estava confusa e descontente. A
cidade parecia em ruínas, muitos perdiam suas casas e outros tantos tiveram
seus lares invadidos pelos mata-mosquitos, que agiam acompanhados por
policiais. Jornais da oposição criticavam a ação do governo e falavam de
supostos perigos causados pela vacina. Além disso, o boato de que a vacina
teria de ser aplicada nas "partes íntimas" do corpo (as mulheres
teriam que se despir diante dos vacinadores) agravou a ira da população, que se
rebelou.
A aprovação da Lei da Vacina foi o estopim da
revolta: no dia 5 de novembro, a oposição criava a Liga contra a Vacina
Obrigatória. Entre os dias 10 e 16 de novembro, a cidade virou um campo de
guerra. A população exaltada depredou lojas, virou e incendiou bondes, fez
barricadas, arrancou trilhos, quebrou postes e atacou as forças da polícia com
pedras, paus e pedaços de ferro. No dia 14, os cadetes da Escola Militar da
Praia Vermelha também se sublevaram contra as medidas baixadas pelo Governo
Federal.
A reação popular levou o governo a suspender a
obrigatoriedade da vacina e a declarar estado de sítio (16 de Novembro). A
rebelião foi contida, deixando 30 mortos e 110 feridos. Centenas de pessoas
foram presas e, muitas delas, deportadas para o Acre.
Ao reassumir o controle da situação, o
processo de vacinação foi reiniciado, tendo a varíola, em pouco tempo, sido erradicada
da capital." (Wikipedia)
Movidos por campanhas canalhas da imprensa de
então, que diziam, entre outras barbaridades, que a vacinação poderia ter
efeitos de tornar os vacinados em híbridos de humanos com vacas (as vacinas
eram feitas a partir da inoculação de vacas com o vírus, que produziria os
anticorpos necessários para combater a infecção) a população foi às ruas
protestar e destruir. Cartuns de homens com chifres e outras características
bovinas eram divulgados por jornais espalhando a mentira e a desinformação
assassina.
Hoje se diz mentiras similares, que os médicos
cubanos se parecem com empregados domésticos (por conta da cor da pele) que são
despreparados e incompetentes, contrariando a própria ONU que classifica a
medicina cubana como estando entre as melhores do mundo. Ela age em países
pobres mundo afora, e em regiões assoladas por desastres e epidemias, com
resultados impressionantemente positivos, mas nossos jornais e nossos dotô
Coxinha ignoram isso!
Burrice, ou canalhice?
Oswaldo Cruz foi crucificado pela mídia por
querer modernizar hábitos e costumes retrógrados que permitiam a proliferação,
não só de varíola, como também de febre amarela e mazelas de outros 50 tons, de
cinza cadáver.
A Revolta da Vacina, assim como a reação aos
Mata Mosquitos (que tinham o direito de invadir as casas para eliminar focos do
mosquito anopheles, transmissor da febre amarela) assemelha-se ao que vemos
agora, uma população idiotizada pronta a atirar no próprio pé e a demonizar
quem quer lhe ajudar, tudo motivado pela imbecilização da classe média burguesa
por parte da mídia e da oposição.
E a história se repete, agora como tragédia,
onde médicos bufões, mais que a população, dão a nota da ignorância tragicômica
dessa pantomima.
Questões sobre o texto:
(cada questão vale 0,2)
1.
Quais os fatores que influem determinantemente na forma como os indivíduos
encarará os fatos novos em sua vida?
2.
Como a educação pode ajudar uma pessoa preconceituosa?
3.
De acordo com o texto, quem foi o responsável, no Brasil, pela campanha de
imbecilização da população e a quem ela foi dirigida?
4.
Como o autor do texto analisa a maioria dos médicos brasileiros do ponto de
vista ético? Justifique sua resposta baseando-se no texto.
5.
Explique resumidamente o que foi a Revolta a Vacina, quando ocorreu e o que
motivou.
6.
É justa a divulgação feita pela mídia brasileira e pela oposição sobre os
médicos cubanos? Justifique.
7.
Tanto atualmente como em 1904, a população foi conscientizada ou enganada?
Justifique baseando-se no texto.
8.
Cite as mentiras veiculadas em (Revolta
da Vacina) e atualmente (sobre os médicos cubanos). Como combatê-las, na sua
opinião?
9.
Do ponto de vista ético, analise a postura da imprensa e da oposição nos dois
momentos históricos do Brasil.
10.
Qual a sua opinião sobre os médicos cubanos? Você concorda ou discorda do
texto? Justifique.
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