sexta-feira, 22 de maio de 2015

A Revolta da Vacina e a reação aos médicos cubanos

AVALIAÇÃO EM GRUPO -  I UNIDADE
A Revolta da Vacina e a reação aos médicos cubanos
Luís Nassif
 O preconceito é filho legítimo da burrice e da ignorância, como provaram estudos recentes. O preconceituoso não nasce assim, aprende, à duras penas, a ser intolerante e reacionário. Fatores como educação, nível sócio/econômico/cultural e localização geográfica influem determinantemente na forma como o indivíduo encarará fatos novos em sua vida. sO novo é o alvo principal do preconceito por que o indivíduo estará mais ou menos preparado para a aceitação de fatos novos na razão direta que for educado para isso. Quanto mais reacionária sua criação, mais preconceituoso ele será. Se for inteligente, ao longo da vida corrigirá os erros de sua educação, caso contrário cangalha e arreios se fazem necessários.
 A reação tacanha e canhestra à chegada dos médicos cubanos ao Brasil mostra isso claramente.
 Quando se anunciou a chegada dos médicos cubanos ao Brasil, começou a campanha de imbecilização da população. Ao contrário do que se poderia esperar, a campanha não foi dirigida aos estratos mais pobres e mais manipuláveis da sociedade. Seria difícil convencer os beneficiados diretos de que a iniciativa era ruim. A campanha foi dirigida justamente àqueles mais ligados à causa do problema, os médicos que acham que medicina é instrumento de enriquecimento material, mais do que uma vocação de ajudar e servir ao próximo.
 A reação destes foi espantosa, mas para mim já era esperada.
 Quem já tinha chamado pobres de vagabundos e Bolsa Família de esmola, só poderia reagir assim, são egoístas e ignorantes, e burros, em sua maioria. Passaram para boas faculdades (públicas!) graças ao poder econômico de suas famílias, que lhes garantiu educação formal de qualidade, mas nenhuma formação moral ou ética lhes penetrou os cérebros embotados e embrutecidos pela qualidade da educação que receberam em casa, a centro do problema.
A reação criminosa (racismo é crime no Brasil) só pode ser comparada a reação contra outros eventos envolvendo o avanço da medicina e a quebra de paradigmas envolvendo hábitos e costumes.
 A Revolta da Vacina, no início do Século XX, por conta da vacinação forçada contra a varíola, gerou 6 dias de caos e destruição no Rio de Janeiro,
"Tiros, gritaria, engarrafamento de trânsito, comércio fechado, transporte público assaltado e queimado, lampiões quebrados às pedradas, destruição de fachadas dos edifícios públicos e privados, árvores derrubadas: o povo do Rio de Janeiro se revolta contra o projeto de vacinação obrigatório proposto pelo sanitarista Oswaldo Cruz" (Gazeta de Notícias, 14 de novembro de 1904).
 Algo parecido com que tem sido visto na recepção aos médicos cubanos, onde a classe médica doméstica acaba de destruir sua precária e depauperada reputação com os eventos de reacionarismo e preconceito, resultado de imbecilização e egoísmo patrocinado pela mídia e pela oposição.

 Como ocorreu em 1904.

 "Para erradicar a varíola, o sanitarista Oswaldo Cruz convenceu o Congresso a aprovar a Lei da Vacina Obrigatória (31 de Outubro de 1904), que permitia que brigadas sanitárias, acompanhadas por policiais, entrassem nas casas para aplicar a vacina à força.
A população estava confusa e descontente. A cidade parecia em ruínas, muitos perdiam suas casas e outros tantos tiveram seus lares invadidos pelos mata-mosquitos, que agiam acompanhados por policiais. Jornais da oposição criticavam a ação do governo e falavam de supostos perigos causados pela vacina. Além disso, o boato de que a vacina teria de ser aplicada nas "partes íntimas" do corpo (as mulheres teriam que se despir diante dos vacinadores) agravou a ira da população, que se rebelou.
 A aprovação da Lei da Vacina foi o estopim da revolta: no dia 5 de novembro, a oposição criava a Liga contra a Vacina Obrigatória. Entre os dias 10 e 16 de novembro, a cidade virou um campo de guerra. A população exaltada depredou lojas, virou e incendiou bondes, fez barricadas, arrancou trilhos, quebrou postes e atacou as forças da polícia com pedras, paus e pedaços de ferro. No dia 14, os cadetes da Escola Militar da Praia Vermelha também se sublevaram contra as medidas baixadas pelo Governo Federal.
 A reação popular levou o governo a suspender a obrigatoriedade da vacina e a declarar estado de sítio (16 de Novembro). A rebelião foi contida, deixando 30 mortos e 110 feridos. Centenas de pessoas foram presas e, muitas delas, deportadas para o Acre.
Ao reassumir o controle da situação, o processo de vacinação foi reiniciado, tendo a varíola, em pouco tempo, sido erradicada da capital." (Wikipedia)
 Movidos por campanhas canalhas da imprensa de então, que diziam, entre outras barbaridades, que a vacinação poderia ter efeitos de tornar os vacinados em híbridos de humanos com vacas (as vacinas eram feitas a partir da inoculação de vacas com o vírus, que produziria os anticorpos necessários para combater a infecção) a população foi às ruas protestar e destruir. Cartuns de homens com chifres e outras características bovinas eram divulgados por jornais espalhando a mentira e a desinformação assassina.
 Hoje se diz mentiras similares, que os médicos cubanos se parecem com empregados domésticos (por conta da cor da pele) que são despreparados e incompetentes, contrariando a própria ONU que classifica a medicina cubana como estando entre as melhores do mundo. Ela age em países pobres mundo afora, e em regiões assoladas por desastres e epidemias, com resultados impressionantemente positivos, mas nossos jornais e nossos dotô Coxinha ignoram isso!

 Burrice, ou canalhice?

 Oswaldo Cruz foi crucificado pela mídia por querer modernizar hábitos e costumes retrógrados que permitiam a proliferação, não só de varíola, como também de febre amarela e mazelas de outros 50 tons, de cinza cadáver.
 A Revolta da Vacina, assim como a reação aos Mata Mosquitos (que tinham o direito de invadir as casas para eliminar focos do mosquito anopheles, transmissor da febre amarela) assemelha-se ao que vemos agora, uma população idiotizada pronta a atirar no próprio pé e a demonizar quem quer lhe ajudar, tudo motivado pela imbecilização da classe média burguesa por parte da mídia e da oposição.
 E a história se repete, agora como tragédia, onde médicos bufões, mais que a população, dão a nota da ignorância tragicômica dessa pantomima.


Questões sobre o texto: (cada questão vale 0,2)

1. Quais os fatores que influem determinantemente na forma como os indivíduos encarará os fatos novos em sua vida?
2. Como a educação pode ajudar uma pessoa preconceituosa?
3. De acordo com o texto, quem foi o responsável, no Brasil, pela campanha de imbecilização da população e a quem ela foi dirigida?
4. Como o autor do texto analisa a maioria dos médicos brasileiros do ponto de vista ético? Justifique sua resposta baseando-se no texto.
5. Explique resumidamente o que foi a Revolta a Vacina, quando ocorreu e o que motivou.
6. É justa a divulgação feita pela mídia brasileira e pela oposição sobre os médicos cubanos? Justifique.
7. Tanto atualmente como em 1904, a população foi conscientizada ou enganada? Justifique baseando-se no texto.
8. Cite as mentiras veiculadas em  (Revolta da Vacina) e atualmente (sobre os médicos cubanos). Como combatê-las, na sua opinião?
9. Do ponto de vista ético, analise a postura da imprensa e da oposição nos dois momentos históricos do Brasil.

10. Qual a sua opinião sobre os médicos cubanos? Você concorda ou discorda do texto? Justifique.

Oração da Escola, Gabriel Chalita

Oração da Escola

 Obrigado(a), Senhor, pela minha escola!
 Ela tem muitos defeitos. Como todas as escolas têm. Ela tem problemas e sempre terá. Quando alguns são solucionados, surgem outros, e, a cada dia, aparece uma nova preocupação.
Neste espaço sagrado, convivem pessoas muito diferentes. Os alunos vêm de famílias diversas e carregam com eles sonhos e traumas próprios. Alguns são mais fechados. Outros gostam de aparecer. Todos são carentes. Carecem de atenção, de cuidado, de ternura.
 Os professores são também diferentes. Há alguns bem jovens. Outros mais velhos. Falam coisas diferentes. Olham o mundo cada um à sua maneira. Alguns sabem o poder que têm. Outros parecem não se preocupar com isso. Não sabem que são líderes. São referenciais. Ou deveriam ser.
Funcionários. Pessoas tão queridas, que ouvem nossas lamentações. E que cuidam de nós. Estamos juntos todos os dias. Há dias mais quentes e outros mais frios. Há dias mais felizes e outros mais dolorosos. Mas estamos juntos.
 E o que há de mais lindo em minha escola é que ela é acolhedora. É como se fosse uma grande mãe que nos abraçasse para nos liberar somente no dia em que estivéssemos preparados para voar. É isso. Ela nos ensina nossa vocação. O voo. Nascemos para voar, mas precisamos saber disso. E precisamos, ainda, de um impulso que nos lance para esse elevado destino.
Não precisamos de uma escola que nos traga todas as informações. O mundo já cumpre esse papel. Não precisamos de uma escola que nos transforme em máquinas, todos iguais. Não. Seria um crime reduzir o gigante que reside em nosso interior. Seria um crime esperar que o vôo fosse sempre do mesmo tamanho, na mesma velocidade ou na mesma altura.
 Minha escola é acolhedora. Nela, vou permitindo que a semente se transforme em planta, em flor. Ou permitindo que a lagarta venha a se tornar borboleta. E sei que, para isso, não preciso de pressa. Se quiserem ajudar a lagarta a sair do casulo, talvez ela nunca tenha a chance de voar. Pode ser que ela ainda não esteja pronta.
 Minha escola é acolhedora. Sei que não apreenderei tudo aqui. A vida é um constante aprendizado. Mas sei também que aqui sou feliz. Conheço cada canto deste espaço. As cores da parede. Os quadros. A quadra. A sala do diretor. A secretaria. A biblioteca. Já mudei de sala muitas vezes. Fui crescendo aqui. Conheço tudo. Conheço as pessoas. E cada uma delas se fez importante na minha vida. Na nossa vida.
 E, nesta oração, eu Te peço, Senhor, por todos nós que aqui convivemos. Por este espaço sagrado em que vamos nascendo a cada dia. Nascimento: a linda lição de Sócrates sobre a função de sua mãe, parteira. A parteira que não faz a criança porque ela já está pronta. A parteira que apenas ajuda a criança a vir ao mundo. E faz isso tantas vezes. E, em todas as vezes, fica feliz, porque cada nova vida é única e merece todo o cuidado.
 Obrigado(a), Senhor, pela minha escola! Por tudo o que de nós nasceu e nasce neste espaço. Aqui, posso Te dizer que sou feliz. E isso é o mais importante.

Assim seja!



Fonte: CHALITA, Gabriel. Educar em oração. Cachoeira Paulista: Canção Nova, 2005. p. 50.